Do Silêncio à Resistência: A Dor do Apagamento Cultural
Por Norma De Marchi Assunção
Na parede envelhecida de uma delegacia, um cartaz ordenava:
“É proibido falar os idiomas Alemão, Italiano e Japonês.”
Era 1942.
No Brasil, a língua dos avós foi calada à força.
Os dialetos italianos foram empurrados para o fundo das cozinhas,
sussurrados entre fogões de lenha,
apagados das escolas e dos registros.
Quem falava italiano era visto com desconfiança...
Era tempo de guerra — e os descendentes viraram suspeitos.
Hoje, o cartaz reaparece, nem é mais em moldura de madeira e nas entrelinhas de um decreto... o Decreto Tajani.
Que, sob o véu da legalidade, repete o gesto da exclusão...
Impõe barreiras a quem carrega o sangue, dos bisavós que foram impedidos de falar...
Exige residência, como se a identidade morasse só em territórios...
Porém a italianidade…
Ela vive na alma...
Na saudade herdada...
Nos sobrenomes que ainda buscam voltar ao som original...
Nos olhos marejados de quem ouve pela primeira vez o hino da Itália e sente o coração bater em duas pátrias...
O decreto em vez de nos apagar, ele nos convoca...
A lembrar...
A reivindicar com dignidade...
A dizer que nossa história nem começou com um papel...
Começou com o pão amassado pela nonna...
Com o nome escrito à mão no navio...
Com a dor de ser estrangeiro em todas as terras...
e ainda assim…
ser inteiro.
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